segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mostra competitiva 35mm (2)

Por Ana Carolina Curvello

Mulher Biônica ***
Com um filme naturalista até certo ponto, Armando Praça traz às telas a força das mulheres através de uma das muitas que sustenta a família e os agregados e, mesmo sem se satisfazer plenamente, segue a vida.
Um curta que fez os telespectadores dar muitas risadas com o sotaque
paulistano da mulherada e o uso de palavrões e gírias. Em apenas 19 minutos, o diretor conseguiu montar um enredo arrojado, porém confuso com cenas cortadas do nada, e cenas de cinema batidas que não empolgam nada.
Ao meu ver, o curta parece ter uma ligação com a série Mulher Biônica, um seriado de televisão norte-americano, interpretado por Lindsay Wagner na década de 70 e que passa em uma versão atualizada na Record. A ligação que eu me refiro, é pelo fato da atriz principal interpretar, com um jeitinho brasileiro, uma mulher batalhadora, que sustenta várias amigas e é super estressada até o momento em que algo na sua vida muda completamente em uma sala de cinema, o que a faz mudar para melhor. Por isso, devido a mudança é possível entender um pouquinho da mulher biônica que há em todas as mulheres.

Que cavação é essa? ***

Com uma idéia bem divertida e original, Estevão Garcia e Luís Rocha Melo brincam com o cinema mudo, ou os primeiros filmes brasileiros, e os cine-documentários que, durante a ditadura militar, eram obrigatórios antes de todas as sessões de cinema.
O filme restaurado registra um churrasco na casa do coronel Alexandrão, onde sua família e amigos "confraternizam-se", no final fala do restaurador de rolos de filmes antigos.
A iniciativa de restaurar um filme antigo, levantou o astral da platéia, porque se pode dar boas risadas, e até lembrar do cinema Charles Chaplin. Quem assistiu não teve do que reclamar a não ser a demora da segunda parte sobre o restaurador, o que deixou cansativo assistir até o último minuto.


O milagre de Santa Luzia ****
Um maravilhoso documentário, que encanta do começo ao fim, com a história surpreendente do toque da sanfona pelo Brasil.
Acompanhado por Dominguinhos, o diretor Sérgio Roizenblit viajou o Brasil inteiro para contar a estória do País, nos acordes das sanfonas. O seu ponto de partida foi o Nordeste. Local onde a sanfona canta a alegria e o sofrimento do caboclo sertanejo que, com coração apertado, tem que deixar suas terras castigadas pela seca. Mas que retorna ao primeiro sinal de chuva, na esperança de uma vida melhor.
Sem nunca esquecer das raízes de onde vem esse som, o documentário nos remete a Luiz Gonzaga, o rei do Baião, nascido em 13 de dezembro, dia de Santa Luzia, Patativa do Assaré, poeta dos cordéis, Sivuca, mestre do acordeom.
No Brasil de muitas cores e povos, ao chegar ao Centro-Oeste, reduto de contemplação, o pantaneiro, ao som da sanfona, canta suas belezas ao ver a boiada passar. No Brasil dos gaúchos, a gaita, como é chamada, traduz a festa. O amor a terra e as tradições. A gaita dos vanerões, dos churrascos em volta da fogueira e dos almoços fartos das nonas.
Quando chega a São Paulo, a mistura cultural acarreta na falta de identidade. Na metrópole, a sanfona transita entre o regional e o pop, o ocidente e o oriente e pode ter todas as caras.
Uma viagem que emocionou, e contagiou de alegria a todos os cinéfilos presentes no CineBrasília. Quem não conhecia a musicalidade da sanfona, concerteza se encantou, com as maravilhas desse som, e quem ja conhecia teve o prazer de lembrar o som do complexo acordeão, também conhecido como sanfona e gaita.
A fotografia soube representar perfeitamente as cores do Brasil, de seu povo e de suas tradições. É um documentário que consegue quebrar muitas expectativas, porque do começo ao fim, ele consegue prender e encantar muitas pessoas com as músicas, as lembranças, e a curisiodade de uma cultura ainda muito forte no Brasil.
Fico emocionada, por ver um documentário, que foi ovacionado durante algumas partes do filme, e mais ainda por todos os presentes terem aplaudido de pé o diretor no final, que fez um excelente trabalho.

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