terça-feira, 25 de novembro de 2008

Mostra Competitiva 35mm (3)

Por Rafael de Carvalho
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A Menina que Pescava Estrelas***

O curta “A menina que pescava estrelas” é um curta em animação, duração de 9min e é dirigido pelo Brasiliense Ítalo Cajueira nos mostra o imaginário infantil representado, como em papel, em imagens que se assemelham a desenhos feitos por crianças.

Fala da história da menina que era amante do céu estrelado contada por uma mãe a pedido de seu filho.

Mariana era uma garota apaixonada por estrelas e certo dia resolveu pega-las por meio de uma vara de pesca e guardá-las em seu guarda-roupa, até que um dia o céu já não tinha estrela alguma e todos estavam tristes, inclusive a lua que estava só no céu.

Para tentar animar os moradores da cidade, Mariana os convida para irem ao seu quarto admirar seu feito, porém todos ficam chocados. Então se libera as estrelas novamente ao seu lugar de origem, a garota então nota que lá no céu era o lugar delas.

O curta é muito bonito, mostra um pouquinho de egoísmo infantil misturado a inocência, um pouco sentimental, inclusive mexeu bastante comigo por isso. As imagens mostradas são bonitas, meigas e engraçadinhas. Ao final do filme faz-se uma bela homenagem a um bebezinho, realmente tocante.

Gostei bastante desse curta, apesar de ser uma animação do tipo “história para dormir” tem um caráter bem sério e algumas preocupações perceptíveis com a perfeição na história e até nos movimentos dos personagens.


Estrada Paraíso**

Dirigido por Tony Martin, é uma produção do Distrito Federal, dura 8min e foi gravado em Corinto (MG). Estrada Paraíso é um curta em preto e branco que mostra uma forasteira que chega a cidade em uma área quase que inabitada.

Com uma bela fotografia que nos mostra um ambiente meio que rústico envolvido com pessoas tão rústicas quanto ele e em contraste com a delicadeza da protagonista.

A trilha sonora se envolve tanto com o enredo que por vezes parece substituir as falas dos personagens e narram os acontecimentos demonstrados nas cenas.

O curta apresenta momentos de uma mulher. Curiosidade, medo, confiança, paixão, desejo e satisfação são alguns das situações passadas pela personagem.

Certo momento o filme perde a seqüência e o foque (ou pelo menos a segurança do foco), tanto que ao término do filme muitas pessoas na seção falavam coisas do tipo “não entendi nada”, “já acabou!?”, “ahm?”... Também não havia visto um fim na cena em que se deu, mas nem por isso o achei um filme ruim. A fotografia e a trilha sonora me satisfizeram plenamente.


Um Certo Esquecimento**

Um certo esquecimento, foi o filme mais familiar (no que se diz de espaço aonde ocorre), gravado em uma banca de jornal da 107 sul. O curta tem duração de 17 minutos, é dirigido por André Carvalheira e é em cores.

Augusto é dono de uma banca de jornal e por vezes se mostra um homem confuso, causando confusões em nós que assistimos o filme também. A história gira entorno dele, incrementada por dona Bárbara, delegado, professor e a morte do senhor Ramiro.

O filme se prende a uma repetição, que devo dizer, tornou-se chata. Uma série de fatos quase que semelhantes, apenas acrescentando-se mais um acontecimentozinho para variar, se seguem várias vezes.

Ora o filme parece retratar uma teoria da conspiração, ora um problema sério de PMR (Perca de Memória Recente). Ora uma seqüência de Dejavoux que indicam algo, ora imaginei que Augusto sofria de Amnésia, mas ao fim tudo se tratava de uma teoria que apresenta possíveis afetações temporais por causa de um Buraco Negro (Super Nova) no Sistema Solar. Fato antes explicado pelo professor a Augusto.

Todo momento do filme aguardei uma direção, num momento pensei “parece que gravaram três filmes, cortaram a película em fragmentos, jogaram numa caixa, tiraram aleatoriamente e reorganizaram na ordem sorteada”. Acho que foi uma tentativa de se fazer um filme auto-explicativo a partir da cognição do telespectador, mas não deu certo. Ao fim a resposta do problema nasce do nada, praticamente em um minuto.


Lauro-Davidson****

Lauro-Davidson foi com certeza o curta melhor recebido pelo público, talvez pelo seu caráter cômico e a história ser baseada em fatos reais. É um filme dirigido por Marcello Tomm Rabello, tem duração de 13min e tem imagens de vários lugares do DF. Lauro é um personagem real baseado em um motoqueiro que monta sua moto com peças roubadas e tem o sonho de se desprender de tudo e sair numa jornada sem rumo pelas estradas a fora.

O filme é quase um meta-cinema, fala da tentativa da produção do filme, que inicialmente parecia ter um roteiro e por causa da teimosia de Lauro acabou virando uma pré-produção que também é um curta interessantíssimo, com um caráter de documentário.

Além de Lauro no filme, também se apresenta Alex. Um homem na meia idade se vê obrigado a cuidar de seu pai, um senhor inválido que está mais morto do que vivo, tem uma bela moto, porém não a usa por não poder sair e também viciado em filmes antigos de motoqueiros que vivem a liberdade sobre duas rodas. Conhece Lauro e decide se aventurar na vida, mas tem um estilo meio retro de motoqueiro dos anos 50, é uma graça.

O filme possui uma fotografia muito dinâmica, interessante, e bonita ligando as motos em movimento com o ambiente em que transitam. A trilha sonora tem uns rocks bem “motoqueiros” mesmo.

É muito bom saber que, como Lauro que estava presente disse: “Esse curta foi só o início de um longa que virá ai”. O filme será muito bom se seguir a mesma tendência do curta.

O roteiro foi muito dinâmico e divertido deu um novo ânimo a seção.


Pequena Fábula Urbana****

“Renata era quase feliz ou quase infeliz
ou quase infeliz, já não lembrava mais”

Pequena fabula urbana é um lindo curta com duração de 13 minutos repletos de simbologias sobre amor, traição, infelicidade e repressões principalmente. O filme é dirigido por Jimi Figueredo e é simplesmente um ótimo trabalho!

Renata havia tirado seu coração e guardado em uma caixa escondida em um relicário na garagem de sua casa. A vida de Renata passava pelo tédio de um casamento com um homem bem mais velho que não lhe proporciona alegria alguma, mas certo dia tudo muda. Heitor voltou a morar no prédio.

Renata vai ao relicário e em meio a uma busca em meio a objetos que lhe remetiam sensações passadas, como bonecas, sutiãs e outras coisas acha a caixa em que estava seu coração e o põe novamente em seu peito.

Heitor, também casado é convidado para sair com a família de Renata. Durante o jantar os dois acabam traindo seus esposos. Heitor então resolve reviver seu coração, que também estava em uma caixa. Mas depois tenta interrá-lo, com isso o coração de Renata também vê a necessidade de voltar para a caixinha, novamente para o relicário.

A analogia do coração em uma caixa remete muito a sentimentos reprimidos, acredito que Renata e Heitor já tiveram algo e na história apresentadas vivem casamentos de aparências.

É um filme lindo, acho que o mais aplaudido pelo público após exibição dessa seção, realmente é uma fabula, é um filme que fala do amor pelo amor sem se quer se utilizar a palavra amor. A beleza também é vista nos enquadramentos destacados na fotografia e na trilha sonora.


Sagrado Segredo***

Sagrado Segredo, é um longa com duração de 75min dirigido por André Luiz Oliveira. O filme começou a ser gravado em 1999 e teve sua conclusão no fim do ano passado e sua estréia no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro no ultimo sábado (22). É um filme que conta com embasamento teórico e tem um formato de documentário. Mexe diretamente com as raízes do povo: a fé, as crenças, os ritos e os dogmas religiosos.

Discute-se até quando a fé ou a religiosidade está ligada a religião ou como se pode professar uma fé a partir de outros ritos não tão dogmáticos como os convencionais. Fala-se de como se encaram as religiões Cristãs da atualidade e como Cristo era, o que defendia, entre outras verdades, pelas falas de um Teólogo. Fala-se das distorções que as religião criaram sobre a religiosidade e sobre a fé em Jesus.

No filme se questiona o que é Cristo na atualidade e nos acabamos pensando: “o que é cristo para mim?”.

No decorrer da história após o contato com o grupo teatral de Planaltina que organiza anualmente a maior Via-Sacra do DF, ouviu-se o termo mais utilizado entre os componentes do grupo “Encontro”. O protagonista do filme então resolve ir atrás desse encontro com Deus na figura de Cristo, participando e partilhando das experiências de quem vive no meio da Via-Sacra. Então ele e sua equipe acabam entrando na figuração do espetáculo e a percepção pessoal de cada um se expressa no decorrer do evento.

No filme se quer entender se o que move um ator a fazer a Via-Sacra é fé ou o simples gosto de interpretar. Questiona-se, ai a tendência das religiões tentarem separar o mundo e Deus como rivais e é dito pelo teólogo neste momento “é possível viver uma religiosidade e ter fé fora de uma igreja”.

Por ser uma sensação única e pessoal se sentir “tocado por Deus” no filme não se explica a sensação do personagem, mas o êxtase era bem notado.

Durante o filme muitas cenas da Via-Sacra de Planaltina são exibidas e relatos de participantes do grupo onde dividem suas experiências.

A fotografia é boa, mas o que mais me agradavam eram os diálogos, as entrevistas.

O filme à medida que parece uma reunião de ateus desafiando a fé alheia também passa a abertura de outro lado, eles conhecendo um pouco da fé e do lado místico da Via-Sacra que eles se quer imaginam. O longa também nos passa grandes informações e nos choca, principalmente quem segue religião cristã, e creio que quanto mais conservadora maior o choque em maior evidência nos diálogos e afirmações do teólogo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mostra Petrobras Revelando os Brasis III

Por Bruno Dantas
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A Mostra Revelando os Brasis, Ano 3, é uma ação de formação e inclusão social do audiovisual, por meio do estímulo à produção de vídeo digitais por moradores de municípios brasileiros com até 20 mil habitantes. O que contribui para a formação de receptores críticos e para a produção de obras que registrem a memória e a diversidade cultural do país, revelando novos olhares sobre o Brasil.
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Os filmes realmente são muito simples e amadores, mas é isso que faz deles tão especiais. É possível conhecer a mostra no site: Revelando os Brasis
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Abaixo segue o comentário de dois curtas apresentados na mostra.
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O Barbeiro de São Pedro da União
O pequeno filme conta a história de um jornalista de Belo Horizonte que vai a uma cidade do interior fazer uma matéria sobre a vida nessas cidades. Resolve para em uma barbearia para cortar o cabelo e fazer a barba. Dura um dia inteiro.
A todo o momento o barbeiro, Seu Joanico é interrompido, e deixa o cliente esperando, seja para comer, para ver um funeral passar, ou participar de uma dança típica da região. Tudo isso enquanto o jornalista faz suas anotações.
Quando o homem diz a que veio e se despede, o barbeiro fica encucado: "Como ele escreveu se nem saiu dessa cadeira?".
Simplicidade e movimentos culturais são abordados nesse curta de 15min, de Francisco Tadeu Pereira.
Leia mais aqui e assista parte do curta abaixo.
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Três Coveiros
Nesse curta documentário de Francisco Flor, três coveiros são apresentados ao público, cada um com suas particularidades. Eles explicam o ofício de enterrar.
Nunca viram alma penada. Enterram apenas 24h após a pessoa ter sido considerada morta, para não cometerem o erro de enterrar viva. Só abrem a cova, para remoção dos ossos, três anos após o funeral.
Um fato curioso, é que um dos coveiros deixou de beber ao constatar que muitos dos mortos faleciam por causa da cachaça (como causa ou por consequência).
Veja fotos aqui.

Mostra competitiva 35mm (2)

Por Ana Carolina Curvello

Mulher Biônica ***
Com um filme naturalista até certo ponto, Armando Praça traz às telas a força das mulheres através de uma das muitas que sustenta a família e os agregados e, mesmo sem se satisfazer plenamente, segue a vida.
Um curta que fez os telespectadores dar muitas risadas com o sotaque
paulistano da mulherada e o uso de palavrões e gírias. Em apenas 19 minutos, o diretor conseguiu montar um enredo arrojado, porém confuso com cenas cortadas do nada, e cenas de cinema batidas que não empolgam nada.
Ao meu ver, o curta parece ter uma ligação com a série Mulher Biônica, um seriado de televisão norte-americano, interpretado por Lindsay Wagner na década de 70 e que passa em uma versão atualizada na Record. A ligação que eu me refiro, é pelo fato da atriz principal interpretar, com um jeitinho brasileiro, uma mulher batalhadora, que sustenta várias amigas e é super estressada até o momento em que algo na sua vida muda completamente em uma sala de cinema, o que a faz mudar para melhor. Por isso, devido a mudança é possível entender um pouquinho da mulher biônica que há em todas as mulheres.

Que cavação é essa? ***

Com uma idéia bem divertida e original, Estevão Garcia e Luís Rocha Melo brincam com o cinema mudo, ou os primeiros filmes brasileiros, e os cine-documentários que, durante a ditadura militar, eram obrigatórios antes de todas as sessões de cinema.
O filme restaurado registra um churrasco na casa do coronel Alexandrão, onde sua família e amigos "confraternizam-se", no final fala do restaurador de rolos de filmes antigos.
A iniciativa de restaurar um filme antigo, levantou o astral da platéia, porque se pode dar boas risadas, e até lembrar do cinema Charles Chaplin. Quem assistiu não teve do que reclamar a não ser a demora da segunda parte sobre o restaurador, o que deixou cansativo assistir até o último minuto.


O milagre de Santa Luzia ****
Um maravilhoso documentário, que encanta do começo ao fim, com a história surpreendente do toque da sanfona pelo Brasil.
Acompanhado por Dominguinhos, o diretor Sérgio Roizenblit viajou o Brasil inteiro para contar a estória do País, nos acordes das sanfonas. O seu ponto de partida foi o Nordeste. Local onde a sanfona canta a alegria e o sofrimento do caboclo sertanejo que, com coração apertado, tem que deixar suas terras castigadas pela seca. Mas que retorna ao primeiro sinal de chuva, na esperança de uma vida melhor.
Sem nunca esquecer das raízes de onde vem esse som, o documentário nos remete a Luiz Gonzaga, o rei do Baião, nascido em 13 de dezembro, dia de Santa Luzia, Patativa do Assaré, poeta dos cordéis, Sivuca, mestre do acordeom.
No Brasil de muitas cores e povos, ao chegar ao Centro-Oeste, reduto de contemplação, o pantaneiro, ao som da sanfona, canta suas belezas ao ver a boiada passar. No Brasil dos gaúchos, a gaita, como é chamada, traduz a festa. O amor a terra e as tradições. A gaita dos vanerões, dos churrascos em volta da fogueira e dos almoços fartos das nonas.
Quando chega a São Paulo, a mistura cultural acarreta na falta de identidade. Na metrópole, a sanfona transita entre o regional e o pop, o ocidente e o oriente e pode ter todas as caras.
Uma viagem que emocionou, e contagiou de alegria a todos os cinéfilos presentes no CineBrasília. Quem não conhecia a musicalidade da sanfona, concerteza se encantou, com as maravilhas desse som, e quem ja conhecia teve o prazer de lembrar o som do complexo acordeão, também conhecido como sanfona e gaita.
A fotografia soube representar perfeitamente as cores do Brasil, de seu povo e de suas tradições. É um documentário que consegue quebrar muitas expectativas, porque do começo ao fim, ele consegue prender e encantar muitas pessoas com as músicas, as lembranças, e a curisiodade de uma cultura ainda muito forte no Brasil.
Fico emocionada, por ver um documentário, que foi ovacionado durante algumas partes do filme, e mais ainda por todos os presentes terem aplaudido de pé o diretor no final, que fez um excelente trabalho.

Mostra Brasília 16mm (1)

Por Bruno Dantas
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A Incomunicabilidade Humana Segundo Tarkowski **
"Transtornado pela dúvida, Zidane perde totalmente a identidade. Eis aí a incomunicabilidade humana constatada por Tarkowski".
Thiago de Castro tenta fazer um curta interessante, mas não consegue. O máximo que ele consegue fazer é tirar risadas do público.
O curta conta a história de um homem que, para escapar da polícia, finge ser Zidane - por acaso, já que ao invadir uma casa é a identidade falsa dele que o rapaz encontra.
Neste local, pessoas começam a chegar em busca de documentos falsificados, pensando que ele é quem falsifica.
Ao fugir de um problema, encontra outro.
Tudo muito forçado, inclusive o fato do policial acreditar que o rapaz se trata do jogador de futebol, e até pedir autógrafo, ignorando o delito do rapaz (dormir em praça pública). E o rapaz nem se quer se parece com Zidane (propositalmente imagino). É... forçado!

Mostra Competitiva 16mm (1)

Por Bruno Dantas
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32 Mastigadas: 16N e 16S *****
Algum brasiliense já se perguntou como seria ver Brasília com olhos de estrangeiro? E algum estrangeiro já quis conhecer Brasília? O que achará da cidade? Todos dizem ser fria, espaçosa, enfim, diferente.
A diretora paulista, Maria Vitória Canesin, faz um recorte pessoal, mas que não é realmente ainda o que acha da cidade, do que sentiu e sente ao morar em Brasília, no curta 32 Mastigadas.
Esse é o número ideal de mastigadas para se fazer uma boa digestão. No caso, o que precisa ser digerido é essa nova realidade urbana e social. A grande sacada é que se precisa mastigar a capital federal quadra a quadra. São 16 quadras ao norte e 16 ao sul.
O curta é totalmente estético e simbólico, mostrando a Cidade Monumento, metade branca e metade céu. Espelhos representam a imagem da cidade, tudo reflete azul do firmamento. Monumentos representam a estrutura que faz a cidade funcionar. Círculos e voltas representam as tesourinhas, onde se parece estar no mesmo lugar não estando.
Basta dizer sobre o curta: perfeito em sua totalidade. Sem dúvidas, o melhor curta que vi no festival.
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2 + 2 = 5 ***
Em 7 minutos, Gui Campos faz uma ponte contraditória entre o discurso do presidente estadunidense George W. Bush e suas ações, simbolizadas pelo quadro de Picasso, Guernica.
O vigilante de um museu cochila, e a TV fica ligada. Enquanto a legenda traduz as palavras aclamadas de Bush, onde incita à bondade, companheirismo e todas essas coisas politicamente corretas; o quadro Guernica se desfaz e mostra o horror dos personagens que sofrem.
"A história se repete. Em tempos de guerra, liberdade é escravidão".
O curta não atrai tanto, mesmo sendo muito bem feito quanto à animação e possuir uma ironia precisa.
Radiohead também cantava na música 2 + 2 = 5 (ignorando se há ligação com o curta ou não) o que poderia ser uma fala de Bush:
Você é um grande sonhador
que tenta consertar o mundo?
Eu ficarei em casa para sempre,
onde dois mais dois sempre é igual a cinco.
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Disfarça e Chora *
Um curta muito chato, em seu conteúdo, e feio esteticamente, ao tentar envelhecer as imagens. Conta a história do relacionamento amoroso de um casal, capitulado em: atração, traição, fricção, provação e ficção. O tempo do público é mais valioso!
Na música de Zélia Duncan, com o mesmo nome do filme, ela canta:
A pessoa que tanto queria,
antes mesmo de raiar o dia,
deixou o ensaio por outra.
Isso resume o filme.
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Tira-Gosto de Poeta ***
Danielle Araújo, do DF, faz um curta documentário, em que conta a história dos poetas brasilienses, da geração do mimeógrafo, e que tiveram que criar sua identidade em um período conturbado - a ditatura.
Nicolas Behr, Luis Turiba, Luiz Martins, Chacal, José Jorge de Almeida, Paulo José da Cunha, Ivan Presença, e Joanyr de Oliveira, atual presidente da Associação Nacional de Escritores, dão entrevistas e contam como foi viver aquela realidade.
Poesia marginal. Poesia de periferia. Poesia jovem. Poesia como salvação. Poesia para descobrir a cidade. Poesia como perigo. Contra-cultura.
O curta mostra também materiais de arquivo e imagens em que os poetas da cidade divulgavam e vendiam seus trabalhos no intervalo de shows, por exemplo. A própria história da revista Bric-Brac é relatada. Um material que serviu para apresentar a poesia de Brasília para o Brasil e para o mundo.
E qual é o tira-gosto de poeta? Coração frito. Eis mais uma história contada no filme.

Mostra Competitiva 35mm (1)

Por Bruno Dantas

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N° 27 ***
A situação é complicada: Um garoto abandona a prova, sem nada respondido, porque estava com um problema corporal. Mais para a frente, ele resume ao coordenador da escola: "Me melei!". Seria cômico se não fosse trágico.
O curta pernambucano de Marcelo Lordello tem poucas falas, e os close-ups no rosto do protagonista passam todo o desespero e angústia de se estar passando mal gastricamente.
A escola pode ser cruel, muito cruel. Os alunos quando descobrem não perdoam. "Cagão, cagão!". Piadinhas não faltam.
O ditado "uma imagem vale mais que mil palavras" é constatado na melhor cena do filme: um estudante correndo pelos corredores com a prova do crime na mão - a camisa "melada".
O diretor deve ter ficado aliviado com as palmas finais, apesar das poucas vaias, já que antes da exibição estava apreensivo, por já conhecer a que o público é capaz.
O curta é engraçadinho e bom, mas não a ponto de vencer a competição.
Por que "N° 27"? Não me pergunte...
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Cidade Vazia ***
Um pouco melhor que o curta exibido anteriormente - N° 27 -, mas não muito, Cidade Vazia, de Cássio Pereira dos Santos, que é do Distrito Federal, e acabou filmando em Patos de Minas, também acabou dividindo as opiniões dos assistentes.
Bruna é uma menina que tem tudo para ser uma rebelde sem causa, patty e "safadinha". Ela resolve sair pela cidade curtindo. Seu primo, Beto, vai atrás, com o objetivo de trazê-la de volta para casa, o que só acontece quando ela quer.
Apesar de parecer um enredo sem graça, o curta prende a atenção, sendo simples mesmo. E, talvez, isso seja até o que faz do curta interessante.
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Filmefobia -
Com o polêmico longa da noite, Filmefobia, de Kiko Goifman, 80min, não poderia ser diferente. Pessoas saíram no meio do filme. Pessoas odiaram. E Pessoas amaram. Preferi até me abster de dar as estrelas para esse filme, por ainda não saber se é bom ou ruim.
De medo de sangue, cobras, ratos e agulhas, até medo de botões, ralos, cabelos, anões e penetração. Fobias é o cerne do filme que seria o making off de um documentário.
Ficção? Documentário? Essa discussão mexe com a imaginação do público. A produção jura que é ficção, apesar de ter alguns atores realmente fóbicos. Mas a verdade só sabe quem participou das filmagens.
Jean-Claude Bernadet, estudioso do cinema na vida real, no filme interpreta o documentarista, que afirma que "a única imagem verdadeira é a de um fóbico em frente ao seu medo". E é justamente isso o que ele procura - colocar as pessoas em situações fortes, emocionalmente violentas. Chocando, como reverberação, o próprio público - com exceção de alguns que acharam graça nas situações desagradáveis.
O cineasta Zé do Caixão, com uma ponta no longa, realmente consegue fazer piadas de algumas situações específicas, mas na maior parte da exibição, o filme é denso e tenso.
Em todos os diálogos, entre a equipe de produção do "documentário", há uma discussão filosófica e ética do se fazer aquelas imagens. Jean-Claude parece a todo momento justificar o que fazia - levar as pessoas ao extremo do pavor -, em nome da arte.
Eles podem não se considerar sádicos, mas o filme não passa de sadismo. Obviamente, o longa tem todo o seu valor, nada igual foi feito - apesar de ter um cheiro distante de Jogos Mortais -, e a qualidade da produção, e atuação (será mesmo?), foi muito boa.
Se vencerá o Festival é uma incógnita. Ao mesmo tempo em que tem todas as qualidades para tal, pode ser considerado uma aberração. Nos resta esperar para ver.
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No vídeo abaixo, Kiko Goifman apresenta seu filme no Cine Brasília: